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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O velho caipira Assuero (Mauro Leal)




Um marcegueiro matuto, meeiro-agregado nas alqueires do meu saudoso e querido avô,
o senhozinho Antonico Leal, em São Mateus, no Município de São Pedro, RJ.
Depois do dia na enxada, já noitinha passava troteando com o pangaré
ou até mesmo arrastando o inchado e rachado pé
pelas estradas à caminho da barraca do seu Atílio indo até à venda do seu Jairo,
para suas comprinhas fazer.
A tendinha sortida, ficava encostada à igrejinha,
ao campo de futebol que também era pasto pra animal,
e em frente ao pequeno e antigo Grupo Escolar,
la na rua do fogo, onde o lotação lotado passava levantado poeira pra todos os lados,
cruzando o bairro da Cruz, passando pelo trevo das Três Vendas até ao Pau Rachado,
onde as casinhas são de taipas de sopapos, as panelas de barro queimado
a lenha é o gaz, os aipins são os pães e os banheiros são os matos.

Sem se desfazer do seu chapéu de palha surrado,
da camisa batida, da calça pelo meio das canelas torcidas
e do ferramental no jacá sobre o lombo do castanho cavalo cansado,
e com seu semblante abatido e curtido pelo sol no roçado,
chegava ao secos e malhados único do povoado, e apressado,
estendia e rodava o chapéu, e com boa noti, cumprimentava,
e bem rapidinho já pedia:
seu Jaro, tiem farinha?
- tiem.
tiem feijão, jaro?
- tiem,
tiem fubá?
- tiem,
Eu quero tiambém um pedacinio de carne seca, uma esteira pra durmir, mortandiela e
um lito de querusene pra encher o fogãozinho, a lamparina e o lampião.
Jaro, você tiem essas coisa toda?
- tiem, seu Assuero!
seu Jaro, tiem pão, tiem broa, sabão de pedra, bulacha e macarrão?
- tiem,
Você tiem mantiega, Jaro?
- tiem,
entião petieca dois pão na mantiega.

Olha Jaro! pra hoje basta, agora passa a régua, mas é pra escrever no cadierno, ta certo, que diespois no final do megi quando o seu Antonico me dá o meu
eu vem cá te acertar o teu,
Ah, eu também estou precisado de um chapéu de paia desse aqui,
e já vô chegano já, porque é o vento sudoeste que está entrano e o tempo ficano rim,
e quando a friagi vem com vento soprano forte de lá debaixo das banda do Riu,
é ele, o sudoeste bateno,
e é cirtinho, é batata, a chuva aqui pra cima não desmorar despencar,
e eu já vou querer está em casa, quando começar já o relâmpo e trovão destrondar e começar a chuva arrear
pra eu e os meu embruiu não moia,
então já me vou, inté manhã, assim despedia dos peões que estavam a prosear
com as caras inchadas de tanto pingunçar, bambeando as pernas pra la e pra ca a ponto de se acabar.

Um comentário:

  1. Muito obrigado pelo carinho, achei muito lindo este teu blog, parabéns. Fiquei muito feliz. Forte abraço.

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