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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Malasartes fez o urubu falar

Quando o pai de Pedro Malasartes entregou a alma a Deus, fez-se a partilha dos bens - uma casinha velha - entre os filhos; e tocou a Pedro uma das bandeiras da porta da casa, com o que ele ficou muito contente.
Pôs a porta no ombro e saiu pelo mundo. Em caminho viu um bando de urubus sobre um burro morto. Atirou a porta sobre eles e caçou um urubu que ficou com a perna quebrada.
Apanhou-o, pôs a porta às costas e continuou viagem. Obra de uma légua ou mais, avistou uma casa de onde sala fumaça, o que queria dizer que se estava preparando o jantar.
Pedro Malasartes, que sentia fome, bateu à porta e pediu de comer.
Veio atendê-lo uma preta lambisgóia que foi logo dizer à patroa que ali estava um vagabundo, com um urubu e uma porta, a pedir de jantar.
A mulher mandou que o despachasse, que sua casa não era coito de malandros.
O marido estava de viagem e a mulher no seu bem bom a preparar um banquete para quem ela muito bem o destinava. Neste mundo há coisas!
Pedro Malasartes, tão mal recebido que foi, resolveu subir para o telhado, valendo-se da porta que trazia e lhe serviria de escada. Subiu e ficou espreitando o que se passava naquela casa, tanto mais que sentia o cheiro dos bons petiscos.
Espiando pelos vãos das telhas viu os preparativos e tomou nota das iguarias, e ouviu as conversas e confidências da patroa e da negra.
Justamente na hora do jantar chegou o dono da casa que resolvera voltar inesperado da viagem que fazia.
Quando a mulher percebeu que ele se aproximava, mandou esconder os pratos do banquete e veio recebê-lo e abraçá-lo, muito fingida, muito risonha, mas por dentro queimando de raiva.
Vai dai mandou pôr na mesa a janta que constava de feijão aguado, paçoca de carne seca, dizendo:
- Por que não me avisou, marido? Sempre se havia de aprontar mais alguma coisa...
Sentaram-se à mesa.
Pedro Malasartes desceu de seu posto e bateu na porta, trazendo o urubu.
O dono da casa levantou-se e foi ver quem era. O rapaz pediu-lhe um prato de comida e ele chamou-o para a mesa a servir-se do pouco que havia. A mulher estava desesperada, desconfiando com a volta do Malasartes. Pedro tomou assento, puxou o urubu para debaixo da mesa, preso pelo pé num pedaço de corda. Estavam os dois homens conversando, quando de repente o Malasartes pisou no pé quebrado do bicho e este se pôs a gritar:
Uh! uh! uh!
O dono da casa levou um susto e perguntou que diabo teria o bicho. Pedro respondeu muito sério:
- Nada! São coisas. Está falando comigo.
- Falando! Pois o seu bicho fala?!
- Sim senhor, nós nos entendemos. Não vê como o trago sempre comigo? É um bicho mágico, mas muito intrometido.
- Gomo assim?
- Agora, por exemplo, está dizendo que a patroa teve aviso oculto da volta do senhor e por isso lhe preparou uma boa surpresa.
- Uma surpresa! Conte lá isso como é.
- É deveras! Uma excelente leitoa assada que está ali naquele armário...
- Pois é possível! Ó mulher, é verdade o que diz o urubu deste moço?
Ela com receio de ser apanhada com todo o banquete e certa já de que Pedro sabia da marosca, apressou-se em responder:
- Pois então? Pura verdade! O bicho adivinhou. Queria fazer-te a surpresa no fim do jantar.
E gritou pela preta:
- Maria, traz a leitoa.
A negra veio logo correndo, mas de má cara, com a leitoa assada na travessa.
Daí a pouco Pedro Malasartes pisou outra vez no urubu que soltou novo grito. O dono da casa perguntou:
- O que é que ele está dizendo?
- Bicho intrometido! Está candongando outra boca, bicho!
- O que é?
- Outras surpresas...
- Outras!
- Sim senhor: um peru recheado...
- É verdade, mulher?
- Uma surpresa, maridinho do coração! Maria, traz o peru recheado que preparei para teu amo.
Veio o peru. E pelo mesmo expediente conseguiu Pedro Malasartes que viessem para a mesa todas as iguarias, doces e bebidas que havia em casa.
Ao fim do jantar, o dono da casa, encantado com as proezas do urubu, propôs comprá-lo a Pedro Malasartes que o vendeu muito bem vendido, enquanto a mulher e a preta bufavam de raiva, crentes também no poder mágico do bicho, que assim seria um constante espião de tudo quanto fizessem.
Fechado o negócio, Pedro Malasartes partiu satisfeito e vingado.



quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O comprador de sonhos

Era uma vez no México um índio, camponês sem terra, pastor sem ovelhas... o que fazia dele um peão.
Um peão é pobre no começo e mais pobre no final, quando a força para trabalhar o abandona...
As pessoas de sua aldeia tinham terras...mas de que serve uma terra onde nada cresce?
E para não morrer de fome, o índio, desceu a “sierra mexicana” em busca de trabalho como peão numa plantação de cacau.
Durante três anos ele cuidou das árvores e colheu seus frutos... mas não era feliz... tinha saudades de sua “sierra.”
Para enfrentar seu destino sonhava com o dia em que finalmente voltaria levando consigo uma mala enorme cheia de presentes...e todos gritariam: “ele voltou...ele voltou...” E todos estariam muito felizes. Ele tinha tanta vontade de ser feliz!
Ao final de três longos anos, ele decidiu que era hora de voltar. Recebeu seu salário. Não compreendia muito bem as contas que o capataz fazia... “_Por três anos de trabalho receberá... aluguel e comida a descontar...perda de uma machadinha a descontar... por sua negligencia, dez árvores produziram menos...a descontar...eis, então, seu ganho: três moedas de cobre. O próximo!”
O índio se afastou lentamente... em sua mão apenas três moedinhas de cobre. Era tudo!
À noitinha chegou à pequena cidade mais próxima. Era alegre, movimentada...as pessoas pareciam felizes. As lojas cheias de coisas maravilhosas...mas caras. Porém, ao passar por uma vitrine de uma loja de doces, ficou deslumbrado. Havia flores, de todas as cores, de açúcar impressionantemente lindas. Uma moeda de cobre...que custava cada uma. Comprou uma charmosa rosa vermelha para presentear Panchita a índia mais linda da aldeia. Agora, com apenas duas moedas comeria pouco, e pronto!
Pouco a pouco a cidade foi adormecendo...estava cansado e sentia muita fome, mas preferiu deixar para comer no dia seguinte antes de se colocar a caminho de casa.
Foi até a uma fonte pública e bebeu muita água para distrair o estômago... já satisfeito percebeu um homem quase sem forças com uma tigela na mão tentando pegar água. Parecia muito doente. Então, o índio pega a tigela e ajuda o homem a beber a água, como se fosse uma criança...
O homem estava tão fraco que era incapaz de segurar a própria tigela e o índio sabia bem do que é que ele sofria...
O índio, então correu até um vendedor de tortilhas e pediu uma porção bem farta e pagou com uma moeda de broze... ofereceu a tortilha ao homem que comeu lentamente apreciando cada mordida.
O homem, então agradeceu e ofereceu um presente, um pequeno saco:
__É para você...A felicidade, talvez...mas eu não sei.
Eram sementes redondas e amarelas, da cor do ouro. O índio aceitou e foi embora a procura de um lugar para dormir.
Já amanhecerá na porta de um albergue. De dentro vinha um delicioso cheiro de tortilhas. O índio entrou e pediu uma para matar sua fome antes de seguir viagem...
Enquanto esperava, um homem descia pelas escadas e disse:
__Chica, traga-me rápido a comida e eu lhe contarei um belo sonho...
__Sonhei que uma deusa de cabelos longos e negros com a noite...era minha esposa. Nós morávamos bem no meio de uma floresta de ouro... aquele que colhesse um galho de ouro na floresta estaria livre da fome. Neste lugar todos eram felizes e vinham à nossa floresta e colhiam braçadas de galhos de ouro e partilhavam uns com os outros toda essa riqueza e felicidade. E eu olhava toda aquela gente e me sentia ainda mais feliz... Não é belo o meu sonho?
O índio ficou impressionado e pensou: “este homem parece ter sorte e tem tudo o que quer, não precisa de um sonho para ser feliz. Se eu gastar minha última moeda com comida, amanhã ainda terei fome. Mas, se eu comprar esse sonho, serei feliz amanhã, e depois, e depois...”
Então, aproximou-se do homem e disse:
__Quero comprar o seu sonho.
O homem ficou assustado e começou a rir.
__O que? Você quer comprar o meu sonho? Mas para que ele poderá lhe servir?
__Ele me servirá para me fazer feliz. Aqui está o dinheiro.
O índio colocou sua última moeda sobre a mesa; o homem não podia acreditar.
__Uma moeda? É pouco, mas ainda é muito para pagar um sonho. Guarde seu dinheiro eu lhe dou o sonho.
__Não estou mendigando, Quero comprar o seu sonho.
Vendo que o índio falava com seriedade e convicção, vendeu-lhe o sonho por uma moeda de cobre.
O índio saiu do albergue feliz por ter comprado um bonito sonho e já pegava o caminho quando Chica veio correndo ao seu encontro.
__Você vai para “Sierra”? Eu queria que passasse por Achulco, a aldeia onde mora minha mãe.
__E o que você quer que eu diga a ela?
__Conte a ela seu sonho. Minha mãe é sozinha e triste. Ela ficará feliz com seu bonito sonho.
__Mas, eu não sei contar história...
__Mas é o seu sonho! Quem poderia conta-lo melhor?
Ela então, entregou-lhe uma sacola com tortilhas, pão, tomates e pimenta.
__Tome! Este é meu presente para sua viagem.
Ele não pode negar o pedido e logo, à tarde chegou ao vilarejo e procurou pela mulher. Curiosos lhe seguiram até a porta da mãe de Chica, queriam saber das novidades. Logo a sala da casa estava cheia, e a mãe de Chica pediu silêncio.
__ Este rapaz teve um sonho magnífico e minha filha o mandou aqui para que me contasse. Cada palavra pronunciada é a palavra da verdade. Chica é testemunha.
Então, ele contou seu sonho e era realmente lindo e encantou a todos do vilarejo.
Pela manhã, estava de partida quando um homem veio procura-lo.
__Minha mulher e filhos moram num vilarejo que fica a um dia de caminhada daqui. Se você for passar por lá, poderia contar-lhes seu sonho?
O índio consentiu e o homem decidiu segui-lo par ouvir mais uma vez o seu sonho. E a notícia corria de boca em boca... e por varias vezes se desviou de sua rota par contar seu sonho por encomenda de alguém. Mas fazer o que? Só um louco se recusaria a dar alegria aos outros.
Até que um dia, finalmente chegou em seu vilarejo. Logo na entrada, viu um bela jovem de cabelos longos e negros com a noite, era Panchita. Seu coração palpitou forte e disse:
__Panchita, trouxe-lhe um presente. E lhe entregou a delicada rosa de açúcar vermelha.
Todos estavam felizes com sua volta. E à noite, em torno da fogueira, ele contou seu sonho a todos e mostrou as sementes de ouro que havia ganhado e uma senhora idosa aproximou-se e examinou-as e disse:
__É um grão d’ixium, o milho. Mas esta felicidade não é para nós...jamais brotará em nossas terras áridas.
__Mas vamos plantá-las... junto com meu sonho.
E numa bela manhã de outono, o índio correu até os campos e pode ver seu lindo sonho...lá havia uma bela floresta: o milho amadurecera e, de tão bonito, de tão maduro, parecia de ouro. E no meio daquela floresta dourada, Panchita dançava com os cabelos soltos ao vento, cabelos longos e negros como a noite...e, de tão bela, parecia uma deusa!

Obs: Nos Contadores de Historia somos compradores de sonho e acabamos vendedor este mesmo sonhos que compramos por onde passamos.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.

Vinícius de Moraes

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Faça do Limão uma Limonada


No decorrer da vida, o homem passa por muitos obstáculos e diariamente trava uma luta de sobrevivência em diferentes aspectos. Cada vitória é um aprendizado, mas é preciso reconhecer, também, a infinidade de lições que se aprende quando se perde uma batalha.
É preciso estar atento para ser capaz de transformar um momento ruim em um aprendizado de bênção. É fazer do limão a limonada. O limão é azedo e insuportável, mas se transformado em limonada, torna-se um refresco maravilhoso.
É preciso ser um conhecedor da Palavra de Deus para transformar situações. A vida não é um limão, mas uma limonada. Na verdade, quando um cristão passa por desertos ou tribulações, Deus está lhe oferecendo a oportunidades de crescer no espírito.
O Senhor só permite que um filho entre em uma batalha quando já lhe garantiu as armas certas para conquistar a vitória. Se alguém que diz conhecer a Deus tem colecionado limões ao longo de sua vida, certamente nunca conheceu a Sua glória.
Confiar é o primeiro passo. De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam. (Hebreus 11:6) Fé é confiança, é preciso confiar em Deus. E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação pela Palavra de Cristo. (Romanos 10:17). Um cristão que não tem uma vida de oração e leitura da Palavra raramente experimentará coisas grandes em sua vida.
Pessoas que não reagem diante de uma tribulação acumulam perdas espirituais. Se o cristão se acomodar em meio às lutas que surgirem em sua vida, certamente vai desenvolver um espírito crítico contra seus irmãos em Cristo. Terá incapacidade de reconhecer os seus próprios erros e será alvo fácil nas mãos do inimigo.
É preciso de alimento para se manter de pé. A Palavra de Deus é o pão vivo que desceu do céu. Um cristão que não lê a Bíblia pode ser comparado a uma pessoa que não come. A falta de vitamina e sais minerais dentro do organismo humano gera doenças e a gradativa falência de órgãos.
Com a vida espiritual não é diferente. Uma pessoa que não se alimenta da Palavra de Deus desconfia se as promessas bíblicas são verdadeiras e se podem ser realizadas em sua vida. Uma pessoa fraca, com o tempo passa a responsabilizar a Deus pelos seus fracassos.
O Salmo 73 relata a história de Asafe, que viveu uma crise pessoal, sem perceber o cultivo de perdas espirituais. Asafe quase saiu dos caminhos de Deus para agir como os pecadores porque se achou injustiçado.
Asafe ficou furioso por perceber que os ímpios (aqueles que não andam como Deus quer) tinham sucesso e prosperidade, por sua vez, os que tinham coração puro (os que fazem a vontade do Senhor) acabavam sofrendo diariamente.
Quando Asafe resolveu correr para os braços de Deus conseguiu entender o verdadeiro significado daqueles que servem e daqueles que não servem a Deus. Até que entrei no santuário de Deus e compreendi o destino dos ímpios. (Salmos 73:17) Asafe resolveu abrir o seu coração para Deus e parar de se angustiar, derramando, assim, as suas indignações e queixas diante do Trono de Deus.
Mais à frente, Deus mostra ao salmista que o pecado não ficará impune, pois os ímpios estarão constantemente em terreno escorregadio e caindo em ruína. São destruídos de repente e completamente tomados de pavor, são como um sonho que se vai quando acordamos.
Por outro lado, Deus deixa explícito na Sua Palavra o Seu amor pelos justos e o Seu desprezo pelos que insistem em promover a maldade. Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males. (1Pe 3:12)
Por essa razão é que o cristão precisa sempre fazer do limão uma limonada. Sabendo que Deus sempre o livrará do mal e dará a vitória em sua mão, em todo tempo.