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terça-feira, 20 de março de 2012

A Lenda do Moinho Encantado

Paulo e Lúcio são irmãos, entretanto o destino dos dois é bem diverso. Paulo é rico, mesquinho e até pratica agiotagem. Lúcio é pobre e caridoso. Certa vez, na véspera de Natal, da janela de sua humilde residência, Lúcio observa, com tristeza e dor, os transeuntes regressarem ao lar, levando presentes e guloseimas para os seus. O pobre homem pensa no triste Natal da esposa e dos filhinhos, pois nada tem a oferecer-lhes. Vai ao encontro do irmão rico e egoísta. Não importa em se humilhar para o irmão e pede ajuda para festejar a data tão importante para os cristãos.
- Poderei ajudá-lo. Arrumo-lhe presunto e doces, se fizer o que lhe ordenar. – disse Paulo.
Lúcio recebeu o prometido, comemorou o Natal com a família agradecendo por terem conseguido o que comer, e, depois pôs-se à disposição do irmão.
- Quero que você vá ao inferno para saber o que há de curioso por lá. – determinou Paulo.
Admirado com o extravagante desejo do irmão, mas sem poder voltar atrás com sua palavra, o moço partiu temeroso.Transpôs íngremes montanhas, atravessou rios e enfrentou muitos perigos nas florestas fechadas pelas quais passou. Seguindo os caminhos indicados por magos que viviam nas florestas, após longos meses viajando sem parar, já quase no fim do mundo, Lúcio avistou uma enorme caverna brilhantemente iluminada. Notou que à porta de entrada desta caverna, estava um velhinho de longas barbas grisalhas.
- Senhor, poderia, por favor, indicar-me o caminho do inferno? – perguntou Lúcio.
- O inferno é aqui meu filho. Mas o que você deseja? - falou o velhinho guardião da entrada da caverna.O jovem contou toda a história ao ancião, sem esquecer de um só detalhe sobre como viera parar ali e porque o fizera. Deixou claro que para pagar o que devia, tinha que satisfazer o desejo do irmão.
- Muito cuidado com os demônios – alertou o velhinho. Eles vão oferecer-lhe verdadeiras fortunas em troca da comida que carrega no embornal. Não aceite. Troque-a apenas pelo moinho encantado que está atrás de uma das portas. Agora entre...
O homem entrou. Os demônios o cercaram e ofereceram-lhe um tesouro em troca da comida. Lúcio propôs a troca pelo moinho. Os diabinhos aceitaram e a troca foi realizada.
Lúcio regressou satisfeito e foi ter com o idoso guardião que o ensinou a manejar o moinho encantado.
Ao chegar de volta ao lar, Lúcio contou o sucedido à esposa, que custou a acreditar em história tão mirabolante.
Então ele colocou o moinho sobre um tamborete e pediu-lhe uma mesa bem farta. 
A mesa cobriu-se de toalha de linho; apareceram depois, deliciosos pratos, saborosos manjares e frutas frescas.
Lúcio manuseava o moinho com todo o cuidado, exatamente como o velhinho havia ensinado. Com isso ele ficou riquíssimo. Tudo o que desejava o moinho moia.
A par de tudo o que acontecia, Paulo, o mau irmão, propõe a compra do moinho. Lúcio vende-o, mas, por esquecimento, não ensinou ao irmão como fazer para parar o moinho.
Paulo, para o jantar, pede ao moinho para moer arenque e sopa. O moinho mói... mói... enche os pratos, as travessas, os caldeirões; espalha-se pelo assoalho e vai subindo... subindo... O homem não consegue fazer o moinho parar. Sai de casa e a enxurrada de arenque e de sopa atrás inundando a rua.
Paulo corre à casa do irmão e pede-lhe que vá buscar o moinho infernal. Lúcio consegue fazer o moinho parar, pois o ancião o havia ensinado detalhadamente.
Com o susto, Paulo resolve repensar suas atitudes e decidiu que de agora em diante seria justo e generoso. Lúcio guardou o moinho encantado com todo o cuidado, pois não precisariam mais dele. A família passou a viver unida e feliz.
Entretanto espalhou-se pelo mundo a fama do moinho prodígio. O comandante de um navio, curioso para conhecer o tal moinho encantado, viajou por muitos mares até chegar à região em que habitavam os dois irmãos.
Sem grandes dificuldades, o comandante conseguiu encontrar Lúcio, o protetor do moinho. Propôs comprá-lo e argumentou que só o utilizaria para moer sal. 
Lúcio hesitou um pouco, mas como desejava mesmo se livrar da responsabilidade de guardá-lo, com um certo pesar, concordou e vendeu o moinho ao comandante.
Com receio de Lúcio arrepender-se do negócio, o comandante partiu apressadamente sem ter aprendido direito a fazer parar o moinho. Já distante, em alto mar, o comandante ordenou:
- Depressa moinho, moa bastante sal.
O moinho começou a moer apressadamente. O navio naufragou e toda a tripulação morreu.
Até hoje o moinho encantado está no fundo do mar moendo... moendo sem parar. Por isso a água do mar é salgada, muito salgada. 


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